quarta-feira, 17 de junho de 2009

beijos no coccix

O copo in loco
O bar da esquina
O olhar e o cheiro in foco
Da menina.

Citrus limonon - “Um dia o sol irá se pôr para sempre...”)

Na capoeira
Bemtevi e Primavera
Angola flui.

Uma - Dezembro de 1992, skinheads espancam Aécio Cândido dos Santos, na Avenida Paulista, em São Paulo. Ninguém fez nada, afinal “ele era negro”.)

MONÓLOGO DA PARTIDA
Na rua de cima a partida de futebol seguia-se com um gol de Aninha;
Na rua de baixo partia Florbela pra uma viagem sem volta;
Na esquina J.W. Bush sangrava com a cabeça partida;
No jardim, o pequeno beija-flor estava de partida para outra flor.
De partida em partida
Parto-me nesse aborto de deus
(Nanû - Março de 1996 - O skinhead G.A.C.W., 17, confessou ter matado Carlos Adilson Siqueira com um tiro na nuca quando este voltava para casa, no centro de Curitiba (PR). Siqueira era negro.)

MENTES APRISIONADAS
Nesse imenso vazio desértico de mentiras absolutas
Mitos de verdades imperfeitas
De uma vida não plural
Marcada por um saber onipontente;
A dor, nossa amiga nas horas de aviso
Passou a ser tratada como inimiga número uno;
O cheiro passou a ser aprisionado num frasco do status quo;
O olhar verticalizou-se na pirâmide construída para único;
Os sentidos encarcerados e julgado culpado por ser autogestão natural;
O sexo uma mistura constante de sabores habita produtos dissabores;
Mentes aprisionadas na grade do invisível
Mentes construídas em laboratórios de vivissecção humana.
Ontem eles me disseram que tudo não passou de um mito
Hoje... Eles me disseram que o mito se transformou em um rito
De passagem para um mundo de verdades construídas para o controle
Eu nada respondi
Nem muito menos questionei-me.
Hoje mitos e ritos se fundem na complexidade das instituições
De uma verdade imperfeita
Apenas para controle.
(Nanû - Um arrastão promovido por 20 skinheads no Burger and Beer, na Consolação, resultou na morte do artista plástico Nilton Verdini Silva. Ninguém fez nada, afinal, ali era um ponto de encontro de homossexuais.)

MONÓLOGO DA MARGINALIDADE
A margem do rio
O beija-flor encontra-se
Com o carcará

A margem da cidade
A formiga encontra-se
Com a aranha

A margem da literatura
O rabiscador encontra-se
Com a rabiscadora

A margem da escrita
A putoeta encontra-se
Com o poeta

A margem
A marginalidade criativa resiste
Ao ímpeto pós-adolescente
Diante da civilidade
Cada vez mais psicótica e desumana.
(Homero – é necessário tranformar os sentimentos de inadequação em coragem e versalidade a kada instante da luta diária. Muitos não resistiram e acabaram mordendo a tentadora isca da ética do capital e caíram no canto da sereia da segurança econômica e afetiva, mesmo sendo um percurso de vida medíocre.)

MONÓLOGO O ÓCIO CRIATIVO
Na noite de terça
O sol acordou
Para escutar a sinfonia das rãs.
No dia de quarta
A lua levantou-se
Para escutar a serenata
Ke o sol lhe criou.
(Mais – “Ke o futuro será de kem exercitar o ócio criativo)


MONÓLOGO DA INVERSÃO
TRISTEMENTE Seguro em MEUS PÉS um CÁLICE
FUMAÇA tatuado no jardim URBANO DA NOITE
Observando DE PERTO a CAMINHADA
A passos RÁPIDO
O bem é mal
O mau é bom
Pergunte as maripozas BRANCAS
NO SOL DE TERÇA.
CALOR.
(Nanû – A modernidade é barbárie)

MINHAS MÃOS
Minhas mãos
Mãos minhas
O que ei de fazer agora?
Agora que estou perto do botão
Que dá fim a todas as mãos?
(Gramsci - Liberdade à Shark! Liberdade à Peltier! Liberdade à John Graham! Liberdade aos Guerreiros Mapuches! Liberdade aos Guerrreiro de Atenco e Oaxaca! Liberdade à Jacabo e Glória! Liberdade à Mumia! Derrube todas as acusações contra Moi Jr. Valary! Não às Olimpíadas sobre Terra Nativa! Não à mineração! Derrubemos a Sun Peaks! Nenhuma estação de esqui em Melvin Creek! Derrubemos as areias de petróleo! Não aos projetos de energia independente (barragens)! Não à expansão das rodovias e ferrovias!)


ÁLIBI IMPERFEITO
Um ato
Na finita imagem de meus olhos.
Um fato
No infinito reflexo de minha realidade
(Auto cadáver - Ouse ser diferente. Tenha disciplina e foco nos seus objetivos. Transgrida se for por uma vida mais justa. Ame a honestidade desejando o fim dos corruptos. Compartilhe. Pense, olhe, ouça, sinta. Cumplicidade não é conivência. Humildade não é subserviência. Deseje ao outro o que gostaria pra si. Aprimore suas estratégias. Estude sempre. Se informação é poder, se empodere. Seja Simples...)

EMPATIA
Na flor da idade
A margarida sentiu
O ke a Imbaúba sentiu
Quando a Preguiça caiu
Do pé de abiu
(Nanû Anigav – Em setembro de 1992, os skinheads invadiram a rádio Atual no bairro do Limão, em São Paulo, dispararam dois tiros e picharam o saguão com slogans antinordestinos. No local funciona o Centro de Tradições Nordestinas(CNT). Depois disso, durante uma festa no CTN, o locutor Jorge Mauro recebeu uma caixa com um objeto metálico e um bilhete contendo ameaças. Nada foi feito “eles eram nordestinos.”)

Na floresta do ínvio
A Preguiça observa o Jupará
Ke observa o Macaco-da-noite
Ke observa o Tamanduá
Ke observa o Ornitorrinco
Namora
Com o esquilo voador

Naua, Anigav, Nanû e Acissej da silva pereira passos torres limeira dos santos – Também em setembro de 1992, skinheads espancam dois adolescentes judeus no centro de Santo André(SP). Os garotos usavam solidéus (chapéu usado em cerimônias religiosas). Ninguém fez nada, “eles eram judeus”.)

Na floresta ínvia
Miragens de um jardim urbano
A rosa vermelha
Faz sangrar humanxs

Nanû – O x aqui usado é para destruir língua machista (lexias) e construir uma linguagem onde a mulher não seja coadjuvante de sua história)

DUAS FLORES
(homenagem a Aul/Aral)

Duas flores;
Uma nasceu na lápide sete
Primavera.
Imenso minúsculo jardim.
Outono.
Em cima da árvore, a outra.
(C.U.S.P.E. – L@ Putoema – escarrando farpas y navalhas na sua face)


MONÓLOGO DA CRIANÇA
A criança não é minha
Também não é sua
Nem dele
Ou dela.
É apenas
Da liberdade.
(Avles Retlav Sevla - Dezembro de 2000, um grupo de skinheads ataca o advogado Emanuel Jorge Santana com sete punhaladas nas costas, dessas uma atinge o pulmão e outros órgãos vitais. Apesar das testemunhas e da agressividade do ato, o principal acusado do crime, conhecido como Fabio Cavalo, foi absolvido pela justiça.
Mais uma vez, ninguém fez nada. Jorge “era só um nordestino que visitava São Paulo”.)

MONÓLOGO DO TERRORISMO
Na caixa de pandora
O presente é...
Ke no futuro
O terrorista é você,
Ao dizer ke só quer ser livre.
(Nanû - Em fevereiro de 2000, um grupo de skinheads espancou até à morte o jovem Edson Néris, adestrador de cães, na Praça da República. Segundo testemunhas o espancamento foi longo, mas, ninguém fez nada. “Ele era um homossexual” )